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Entrevista com Leonardo B. Leite, senior partner do Almeida Advogados, sobre ESG – Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança e seu impacto em transações de M&A



 

Entrevista com Leonardo B. Leite, senior partner do Almeida Advogados, sobre ESG – Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança e seu impacto em transações de M&A

Leonardo B. Leite, sócio do escritório Almeida Advogados e especialista em Societário, M&A, Governança Corporativa, ESG, Compliance e Direito Corporativo, conversou conosco sobre ESG – Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança, sigla que compõe o conjunto de práticas socioambientais, que deixou de ser um diferencial para se tornar obrigatório, no caminho da sustentabilidade do negócio e seu impacto em transações de M&A. Veja os detalhes do nosso bate-papo:

 

Denis Morante – Fortezza Partners: Léo, estamos diante de um assunto extremamente em voga, que é o tema do ESG. Eu queria ouvir de você, na prática, o que é o ESG?

Leonardo Leite – Almeida Advogados: ESG é um acrônimo, uma sigla para Environmental, Social and Governance, também chamado de ASG, que é a mesma coisa escrita de uma outra forma. É um conceito que combina os três pilares e resume uma mentalidade empresarial que foca em sustentabilidade. A ideia central é combinar nas operações e atividades da empresa, as questões ambientais, de governança e as sociais. Vejo como uma evolução das melhores práticas de governança corporativa e tenho comentado que não é modismo e nem uma coisa que surgiu de um dia para o outro, mas é uma evolução. Ou seja, o ESG não é novo, mas veio para ficar. E tende a ajudar o Planeta a encontrar um equilíbrio maior. E espero que tenhamos empresas mais sustentáveis.

 

DM: Migrando especificamente para M&A, qual o impacto que você vê do ESG em transações?

LL: O impacto é enorme e direto, e vem na mesma linha da governança e do compliance. Vejo dois pontos principais, um é a atratividade do investimento, da operação, e o outro é o risco envolvido no projeto. Um exemplo de atenção maior é a due diligence, porque aprendemos a observar a empresa como algo que realmente tem que valer a pena considerar. As chamadas contingências agora são maiores, pois podem envolver imagem, reputação, perda imediata de mercados e diversos custos que não são contabilizados. O empresário está sabendo que se vai olhar para uma empresa target, olhando para ela como alguma coisa que gere dinheiro, tem que olhar também como algo que integrar na operação.

Uma compra de empresa ou de ativos, pode trazer problemas e custos que estamos aprendendo a procurar. Precisamos descobrir se o projeto será realmente positivo e se a rentabilidade esperada é realmente sustentável. Não se olha mais apenas para hoje, eu tenho que olhar se a empresa é consistente, e tentar estimar se os próximos anos serão rentáveis também. As práticas que geraram o mercado e os lucros da empresa alvo são mesmo sustentáveis? Quando você olha o fluxo de caixa descontado, tem que olhar se vai continuar através da questão da atratividade e da sustentabilidade. Por outro lado, você vai olhar também a imagem que essa empresa tem, porque você quer uma empresa que traga ou aumente imagem positiva para a sua operação. Agora, o investidor quer ganhar dinheiro, mas também não quer manchar sua imagem de investidor ou de empresa adquirente. Isso a gente vê tanto na mobilidade das empresas em termos de que investimento será feito, mas também como eu disse na due diligence. Já faz um tempo que a due diligence não é apenas de documentos, como no passado, mas que tenta investigar como está o compliance da empresa, como está a governança, o que você tem em melhoria de processos, de padrões e de operações e o que você está tendo de denúncias e problemas e como você está lidando com isso. Vamos cada vez mais fundo no que pode haver de responsabilidades. E o ESG vem reforçar esses cuidados. Vemos, também, assim como ocorreu com o compliance, cláusulas e itens nos contratos, e também capítulos e questões de due diligence, ligadas diretamente ao ESG – tanto em relação ao que a empresa faz agora, quanto em relação aos projetos futuros. Com o ESG está refletido negócio, e como a empresa quer ser mais sustentável, tanto pelo aspecto de rentabilidade sustentável financeira, como em relação ao próprio modelo de negócio envolvendo todo o ESG. Eu já vejo muito forte isso, tanto em termos de mercados capitais, quanto de fundos, e de M&A – todos já olhando com força para o ESG.  Ainda é um começo, mas já é um começo promissor e crescente.

 

DM: Você acha que o ESG já precisa ser diligenciado por compradores?

LL: Sem dúvida. Eu recomendo que seja assim, mas isso também depende (no mundo real) de quem são as partes envolvidas, como eu disse ainda é um começo. A gente vê fundos, executivos e empresas muito conscientes que já estão colocando na sua mentalidade o ESG para qualquer movimento que eles façam, mesmo não sendo maioria, pois tem gente que ainda não foi impactado por isso. E existem os que acham que é modismo ou “marketing” e que perderão a sua chance de continuar no mercado. Quem não se adaptar e não se reinventar, perderá mercado, perderá colaboradores, perderá imagem, e perderá dinheiro. O momento ainda é o de conscientizar, e daí a importância de conversas e de entrevistas como esta, de artigos, de “webinars” que tenho participado e organizado nesse sentido, onde tentamos explicar e incentivar isso para a sociedade. Você sabe que tanto um banco de investimentos, uma consultoria ou um escritório de advocacia, quanto as auditorias que participam (todos juntos) num processo de M&A, tem ali dois papéis: o técnico, e o de agregar experiência e conhecimento. Cada um de nós tem, também, o seu jeito de trabalhar, onde é possível ajudar o cliente a prestar atenção além do básico. Em outras palavras, vejo como ampliação do nosso papel, sempre que o cliente permitir, lembrarmos das melhores práticas empresariais em geral, obrigatórias ou não. Venho ajudando clientes em reuniões de diretoria e conselho também, mesmo no dia a dia, a trazer a pauta ESG para a sua filosofia e mentalidade. Sabemos que há empresas mais consistentes e mais conscientes que já estão passando isso no briefing do projeto para a gente, outras que gostam quando a gente comenta, e tem outras que, apesar de eu não ter algum caso assim ultimamente, não estão preocupadas e falam que querem algo mais rápido e superficial (deixando outros pontos para depois). Ainda temos um pouco de tudo, mas é frequente o interesse pelo ESG e no mercado de M&A o tema está crescendo muito.

 

DM: Ainda não chegou a hora em que o ESG vai virar um “Go x no Go” em uma transação, provavelmente é uma transição?

LL: Existem duas maneiras de responder à sua questão. Para as empresas muito conscientes e preocupadas com isso e que estejam realmente envolvidas com o ESG, eu acho que isso é determinante sim. Acredito que elas não venham a comprar, se você não tiver uma empresa target organizada nesse sentido, pelo menos como um projeto de melhoria, que é a forma como nós vemos isso. A gente vê empresas colocando metas para 2025, 2030, 2050, seja de sustentabilidade geral, seja de diversidade nos seus quadros, e assim por diante. Para as empresas ainda pouco conscientes e menos preocupadas, acredito que num primeiro momento o ESG afete a precificação. Talvez ainda sigam com o negócio, mas pagando menos. Ou seja, acredito que o “Go x no Go” depende de alguns aspectos. Outro ponto é o grau de “problema” (o tamanho do prejuízo) com a falta de respeito ao ESG na empresa alvo. Se a empresa target estiver totalmente errada, absolutamente insustentável, e sem planos, sem projeto de melhoria, e a adquirente for consciente, eu acho que é um “No Go”. Por outro lado, se os ajustes forem “apenas” questão de custo, o foco será no valor. Ao menos, é claro, nos bons projetos de M&A.

 

DM: E se você hoje fosse procurado por um cliente na posição compradora, você diria a ele que é importante fazer uma diligência de ESG, óbvio dependendo do negócio você vai dar ênfase no assunto A, B ou C, mas você diria para ele, se ele fosse aberto, você insistiria que se fizesse?

LL: Sem dúvida. Na hora de conversar sobre o projeto, e depois nas próprias etapas da operação, na lista de due diligence, na estruturação do negócio, na elaboração dos contratos e na negociação, etc, já percebemos se há ou não abertura para sugestões. Nos melhores projetos, o cliente quer um parceiro efetivo e quer alguém experiente e com visão de negócios (muito além do puramente jurídico), que ajude a avaliar a todo. Em outros, às vezes quer apenas alguém que veja documentos. Tem cliente que está muito fechado e que não dá essa abertura, caso em que se tem que conviver com isso, mas quando a empresa deixa realmente a gente participar com sugestões, com propostas, sem dúvida eu já tenho feito isso e já tenho falado na sustentabilidade de um modo geral, da governança, do compliance, está tudo junto. E quando se tem liberdade colocamos tudo isso, não apenas na atratividade, mas também nas próprias cláusulas, nas representações e garantias, no acordo de acionistas. É um caminho sem volta, como já ocorreu com o compliance.

 

DM: Como é que você acha que o ESG pode impactar as declarações e garantias? Você acha que pode vir a ter um incremento de declarações e garantias por mais assuntos envolvidos por conta do ESG?

LL: Certamente. Isso já acontece e acredito que chegará de maneira crescente. Como comentei, da mesma forma como nas declarações e garantias, há muitos anos passamos a incluir questões de governança e compliance, agora ampliamos com temas de sustentabilidade e ESG. O que chamamos de esqueletos escondidos agora são mais amplos. Muitas vezes, no M&A você faz uma due diligence e não descobre coisas que depois se vê que tem problema lá na frente. Por vezes até pelas pressões do próprio cliente. Alguns empresários, por vezes até por não terem experiência, querem uma due diligence rápida, barata e superficial. Depois se arrependem, mas ainda há quem ache que esses erros valem a pena. Nesses casos o que se pode fazer para tentar reduzir o rombo que virá depois é incrementar a força dos contratos, e as garantias. Vemos ampliação de declarações e de cláusulas que vão puxar essa responsabilidade para o vendedor, que deverá garantir que não tem problema de sustentabilidade no seu modelo, nos seus funcionários, na sua região, no meio ambiente e assim por diante. Ou então o vendedor garante que tudo que aconteceu já foi resolvido e que agora há uma nova prática. Vemos ainda declarações de que a target tem metas ambiciosas, possíveis e atingíveis de melhorar os pontos ESG em X % ao ano. Ou seja, já há bastante do ESG nas declarações e garantias também.

 

DM: Você acha que pelo fato de o ESG ter um escopo muito amplo, quando a gente olha para o Ambiental tem questão de reflorestamento, uso de água; no Social, relacionamento com comunidade, direitos humanos e direitos trabalhistas; e na Governança, um pouquinho mais como você disse já é um assunto mais presente. Você acha que pode haver a necessidade de envolver outros especialistas nas diligências, além dos tradicionais advogado e auditor?

LL: Certamente. Dependendo do setor, do segmento, e do risco específico, você já tem outros especialistas e outras auditorias no time, há muito tempo. E isso deve crescer. Por exemplo, quando se fala de grandes terras, de fazendas, você já tem especialistas na área, em meio ambiente, dependendo do segmento você já vai fazer uma due diligence ambiental. E há a due diligence técnica e regulatória em muitos segmentos. Tem outros tipos de consultores, por exemplo em empresas de alta tecnologia, muitas vezes você vai trazer pessoas específicas na área de tecnologia também. Mineração e segmentos poluidores, ou potencialmente impactantes ao meio ambiente etc. Ou seja, tudo isso já acontece, dependendo do segmento já tem outros parceiros num processo de M&A, e eu acho que isso é crescente sim. No caso concreto, depende de quais os pontos mais sensíveis, pois falamos de empresas de modo geral, mas você sabe que existem muitos tipos de empresas, por exemplo, a parte ambiental, normalmente você vai pegar mais uma empresa de fabricação, mais em planta industrial. Mas o ESG veio ampliar o conceito de cuidados e os públicos potencialmente afetados. A questão dos recursos empregados, a atenção às pessoas e todo o conceito que conversamos, de alguma forma agora estão presentes em todos os negócios.

No comércio, também há a questão de sustentabilidade, a questão de armazenamento, também a questão dos direitos humanos, até nos supermercados, tem também a questão da diversidade. Dependendo do segmento você vai adaptando, mas eu acredito que sim, que nós vamos ter especialistas e consultorias específicas dependendo do segmento. E vejo um outro aspecto nessa linha também que é a própria preparação das empresas para os projetos.

Algumas empresas estão criando programas parrudos internos de ESG, até áreas de ESG, até executivos específicos para ESG, que participarão mais dos projetos. E outras estão trazendo advogados e consultores externos para ajudar a pensar. Eu mesmo estou sendo chamado para ajudar na reflexão e no acompanhamento do tema nas empresas. Por vezes atuando junto à Diretoria, e ao Conselho, reforçando a pauta ESG em tudo o que se discute.

Ou seja, esse tema é crucial e agora pode custar a sobrevivência do negócio. Não é só no M&A, mas de um modo geral. Como eu disse vejo muitas empresas criando essa pauta na sua Diretoria, no seu Conselho, e muitas vezes trazendo seus consultores e observadores para ajudar a sempre lembrar disso em todos os seus momentos. Não é um tema à parte, pois a alta gestão tem que lembrar disso na hora de criar um produto, serviço, construir uma nova planta, a propaganda, a embalagem que será utilizada para o novo serviço ou produto, se ele consome menos energia ou menos água, se ele é reciclável ou se ele pode vir a ser reciclável. Vemos isso no dia a dia e no M&A, assim como no mercado de capitais.

 

DM: Você já está com algum projeto onde o ESG está sendo relevante em diligência?

LL: Vários. Como eu disse, ainda depende de quem é a empresa e de quem é o executivo (a executiva) líder. Quanto mais consciente for a pessoa, mais ela trará o tema para nós e para o projeto. E isso tende a aumentar rapidamente.

 

DM: Que tipo de comprador no mercado nacional você acha que vai levar o ESG mais seriamente nas análises de M&A? São os compradores estratégicos internacionais, os locais, os Fundos, os Private Equities, os Family Offices, ou os Fundos soberanos que estão aqui no Brasil? Quem você nesse momento acredita que vai começar a trazer mais isso à pauta nos M&As?

LL: De maneira geral todos. O tema é fundamental para todas as empresas, sendo que algumas perceberam há mais tempo. Nos últimos tempos, inclusive pela magnitude que o ESG conquistou, vejo que todos estão começando a se mexer. Vejo avanços na mentalidade que controla esses grupos que você falou, havendo grupos e empresas que já são mais conscientes, outros não, por um lado de consciência. Por outro lado, muitas vezes a questão depende de uma estratégia de querer se pautar como uma empresa que adotou o ESG, e eu acho também que um terceiro fator é a própria sensibilidade do segmento. Quanto mais sensível for o segmento, mais potencialmente agressivo ao meio ambiente ou aos direitos humanos, dependendo do que a empresa fizer, mais preocupação ela vai ter, além de depender, também dos movimentos do segmento (a concorrência) e da pressão do consumidor. Financeiramente falando a pressão está crescendo também, porque quanto mais complicada a empresa tiver, mais investimento ela vai requerer para melhorar a operação. Se a operação já está boa em termos de ESG, o investimento pode ser menor, se ela está muito atrasada, esse investimento pode ser maior, então eu acho que até por aspectos financeiros também, a gente já começa a ver isso crescendo. Eu não vejo ainda como uma questão dependente da origem do capital, eu vejo famílias e family offices, fundos, executivos preocupados com isso, inclusive pela própria imagem deles. Empresas familiares tradicionais em geral já pensam em imagem de longo prazo, mas com o tempo todos pensarão assim. Além disso, já se vê executivos e colaboradores que não se sentem confortáveis ou atraídos para trabalhar em empresas que sejam consideradas não sustentáveis ou não responsáveis. A imagem do negócio e a causa da empresa estão ganhando relevância na decisão de se unir ou não ao negócio. Da mesma forma que o consumidor vê a questão. Então vemos preocupações com o tema no RH das empresas, e por várias razões – seja por uma questão de marketing, de imagem ou financeira, já se começa a ver empresas que se não olharem para o ESG, terão dificuldades de atrair colaboradores. Isso já é geral, e vai crescer.

 

DM: Você acha que o valuation das empresas acaba impactado pelo ESG?  Quanto mais voltada ela for, você acha que ela valoriza mais ou menos?  Muito disso tem relação com economias que as empresas fazem, a não adoção.  Quando elas adotam, em tese, elas vão reduzir a economia. Como é que você acha que isso traz impacto no valuation delas depois?

LL: Certamente. A lógica mestra da precificação no M&A considera o quanto a compra adicionará de valor ao adquirente. E quanto mais a empresa (ou os ativos) target trouxerem de valor, maior será o projeto. De outro lado, se o ganho for estimado em algo pequeno, o preço cai. Empresas com problemas terão cada vez mais descontos e redutores de preços.

Mais e mais se avaliará a projeção que a própria empresa target faz e apresenta. Ela está lá baseada em algumas premissas, que podem ou não ser sustentáveis. E se ela estiver com algum problema no ESG, essas premissas serão questionadas. Em alguns casos o negócio nem será atrativo, mas em outros haverá desconto, pois poderá haver a perda de mercado, perda de concessão, autorização, mercado consumidor etc.

 

DM: Obrigado Leo. Como é que está o Almeida Advogados nesse período, em que já estamos quase indo para um ano e meio de pandemia? E como é que você tem visto o mercado de M&A nesse hiato de tempo pandêmico?

LL: Nosso escritório segue firme. O Almeida Advogados está muito bem, completando 20 anos esse ano, sempre crescendo. O André Almeida (nosso fundador e CEO) começou sozinho, e hoje temos um corpo jurídico de 250 pessoas, com 5 unidades, em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília e Belo Horizonte, atuando em todas as áreas do direito corporativo, então o escritório cresceu e vem crescendo. Também é um dos principais escritórios tanto em rankings brasileiros quanto nos internacionais que nos colocam sempre como os sócios principais e admirados. Mesmo na pandemia, continuamos crescendo em tamanho, em áreas, em unidades, em sócios, em pessoas, em operações, e também seguimos crescendo em termos de faturamento. Nesse período específico de 2020 e 2021, é claro que fomos impactados como todos, e tivemos que adaptar grande parte da operação para home office. E tivemos que lidar com o contexto geral e ajudar clientes que foram mais impactados. Alguns segmentos empresariais estão crescendo e até lucrando com as mudanças de hábitos na pandemia, mas outros sofreram bastante. No mercado em geral tenho visto que algumas empresas tiveram e tem muita dificuldade, e vários tiveram que fechar ou que vender sua operação. No começo, assim como todos, fomos surpreendidos e sentimos bastante, mas depois até de uma maneira surpreendentemente rápida, nós não apenas retomamos a mesma carga de trabalho de antes, quanto até aumentamos se compararmos com o ano de 2019. A quantidade de projetos e de sócios aumentou de 2019 para 2020, e crescemos em todos os indicadores.

Sobre o mercado de M&A, ele não para.  Ele está sempre se movimentando por várias razões, com gente querendo comprar, sempre gente querendo ou precisando vender. Houve muito impacto pela pandemia e muitas empresas aproveitaram para ir às compras, assim como no mercado de capitais. No início, ninguém sabia o que aconteceria com o mercado de M&A e de capitais. Havia incerteza e temor. Mas, se analisarmos o Brasil, existe um aspecto que sempre impacta a própria economia e o M&A, que é o binômio taxa de juros e câmbio, sem contar a inflação.  Então vimos uma taxa de juro muito baixa no ano passado, e para quem tem dinheiro, deixá-lo no banco como investimento não é uma boa ideia, e sendo assim o investidor pode comprar empresas ou entrar no mercado de capitais, na bolsa. Vimos uma grande quantidade de M&As e IPOs. Além disso, sabemos que em todas as crises, o dinheiro não some, ele apenas troca de mãos, e sendo assim muitas empresas estão indo às compras de outras empresas que estejam em dificuldades ou baratas, além da questão do câmbio, onde se vê um investimento externo muito forte. 2021 tem tudo para continuar assim. E agora vemos, ainda, o foco dessa nossa conversa, com o ESG chegando com força para melhorar o ambiente de negócios.

 

Entrevista com Leonardo B. Leite, senior partner do Almeida Advogados, sobre ESG – Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança e seu impacto em transações de M&A

DM: O site de vocês tem uma característica interessante onde todos os sócios replicam uma frase, que reputa marcante e inspiradora. A sua é uma do JPMorgan que é “não contrato advogados para me dizerem que não posso fazer o que eu quero, mas para me dizer como fazer o que eu quero”. Como é que essa frase impacta a sua atuação em M&A, como profissional e como, eventualmente se traz isso para questão do ESG?

LL: Nós chamamos isso de frase inspiradora. Os sócios foram convidados há uns 4 anos, quando houve uma reformulação grande do site a citar uma frase inspiradora. No meu caso, escolhi a frase que causou maior impacto no estilo de advogado que adotei. Essa frase reputada ao JPMorgan me foi apresentada há uns 30 anos pelo menos e “peguei para mim”. Tenho agora 55 anos de idade e 36 anos de carreira, e nesse período já aconteceram muitas coisas, o mundo já mudou bastante, vieram muitas ondas e crises, novas áreas surgiram, mas essa frase sempre me acompanhou. Sou advogado de negócios, de projetos, não sou um advogado de contencioso, portanto meu trabalho é ajudar o empresário no que ele faz. Na advocacia corporativa só há um caminho ajudar o empresário, com a ressalva obvia de que a lei e a ética são os parâmetros. O conceito de briga num deal, é diferente do que se vê em processos, pois você briga pelos interesses do seu cliente, mas não vai brigar com o outro lado, se não, não sai negócio. Você tem que ajudar a fazer o negócio, você um deal maker. Então a minha frase tinha que ser conciliadora também. O JPMorgan com essa frase é uma inspiração para uma área que eu estudo há mais de 30 anos que é a advocacia corporativa, que se preocupa com o próprio negócio da empresa. Nós vamos no cerne da empresa, no que ela faz. Falamos diretamente com o presidente da empresa, com o dono, com o controlador, e esse público tem uma ligação com essa frase muito forte, porque ele não quer saber de dificuldades, de problemas, de surpresas, e “odeia” aquela visão antiga de que o advogado simplesmente dizia pode ou não pode, ou que há essa ou aquela lei. Lidar com o Direito é parte do nosso trabalho, mas não é isso que o empresário quer. Ele diz que quer fazer uma caneca sem asas, e nos pergunta como será a melhor forma dentro da legislação, de uma análise de risco de criar esse projeto, não importando que seja um projeto fácil ou não. Muitas vezes a caneca sem asas será chamada de copo, mas é possível fazer. Por minha conta, eu brinco que eu “estiquei” essa frase porque ele diz que não contrata um advogado para dizer que não pode, mas para mostrar como. E eu coloco uma vírgula por minha conta no final, onde eu digo que “dentro da lei e da ética”. O meu balizamento é respeitar sempre a lei e a ética. Eu sempre digo que o empresário sério, o empresário bom, não quer fazer bagunça nem “maracutaia” ou “falcatrua”, mas ele quer achar um jeito de fazer acontecer. E o que for possível dentro da lei e da ética, vamos fazer. No exemplo anterior da xícara, se ele quiser fazer uma xícara sem asa, eu posso dizer que aquilo talvez não seja uma xícara, talvez um seja um copo, mas vamos em frente, eu vou ajudá-lo a identificar, entender e fazer a gestão dos riscos além de achar uma maneira mais segura possível de fazer o negócio dentro da lei e da ética. Esse é o trabalho do advogado corporativo como um todo. Essa frase, esse pensamento, está na maioria dos meus livros sobre esse assunto, sabendo que já tenho algo em torno de 25 livros, entre solo e coletivos, seja sobre societário, governança, sobre propriedade intelectual e advocacia corporativa. Eu sempre falo isso para os meus amigos, sócios, alunos, minhas equipes, e isso faz parte da minha cabeça, da minha mentalidade. Criei uma outra frase que repito sempre: Entre o sim e o não existe o assim. Nem sempre posso dizer simplesmente sim, mas evito o não, buscando um caminho seguro e sustentável. Eu tenho que ajudar o empresário a fazer o projeto que ele quer, desde que a gente consiga (juntos) encontrar uma maneira dentro da ética e da lei, e de uma maneira que seja segura, viável e sustentável. Veja como era natural que eu me apaixonasse pela governança corporativa, pelo compliance e pelo ESG, pois os negócios sustentáveis sempre são os melhores. Então trazendo o ESG, eu vou ajudar esse empresário a pensar se o projeto é possível, e se não for, tentaremos torná-lo possível, fazer a conta do custo x benefício de tudo isso, porque ele pode até ser viável, mas ele vai trazer multas muito altas? Vai fazer perder autorização? Vai causar uma crise de imagem? Acaba não valendo a pena. E o ESG entra aí também. Você vai querer entrar num projeto que pode até te dar dinheiro no curto prazo, mas que não seja sustentável ou trará custos e problemas adiante, que pode trazer uma crise de imagem e gerar perda de market share? Reputação não se negocia. Quando o empresário entende os nossos argumentos e percebe que lutamos pela sustentabilidade, e pela maior segurança jurídica possível, em geral criamos parcerias de décadas. Ou seja, o JP Morgan “me ensinou” a frase, e a trabalhar. A esta altura a maioria dos clientes quer a minha experiência e o meu conhecimento de empresas e de negócios, e não apenas um advogado tradicional que conheça a lei. Ao menos nesses primeiros 36 anos de carreira e após alguns milhares de negócios e de projetos, estou supersatisfeito.

 

DM: Muito obrigado!

LL: Eu agradeço.

 

Sobre Leonardo B. Leite: sócio do escritório Almeida Advogados e especialista em Societário, M&A, Governança Corporativa, ESG, Compliance e Direito Corporativo, com mais de 36 anos de carreira. Coordenador, palestrante e moderador de Congressos e Seminários, no Brasil e no exterior.

 

Sobre o Almeida Advogados: Escritório fundado em 2001, por André de Almeida. Com foco inicial em Fusões & Aquisições e Reestruturações Societárias, se posicionou de forma diferenciada em outras áreas do Direito Corporativo. Hoje o escritório conta com mais de 250 profissionais divididos entre São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e Recife. Uma evolução possível graças a uma gestão personalizada, feita por advogados experientes, com espírito contemporâneo e, ao mesmo tempo, de olho no futuro da advocacia.

 

Denis Salvador Morante
Senior Partner – Fortezza
Entrevista com Leonardo B. Leite, senior partner do Almeida Advogados, sobre ESG – Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança e seu impacto em transações de M&A




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