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Impactos da Pandemia nos Investimentos em Private Equity no Brasil



 

Impactos da Pandemia nos Investimentos em Private Equity no Brasil
Em 8 de abril de 2020, a XP Investimentos promoveu um excelente debate sobre o momento da indústria de private equity no Brasil à luz da Pandemia do COVID-19. Para tanto, convidou 3 excelentes e experientes gestores desta indústria para exporem suas ideias e visões. Os participantes foram Chu Kong, head da área de private equity da XP Investimentos, Piero Minardi, head da área de private equity do Warburg Pincus na América Latina e, também, atual presidente da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), e Amaury Bier, sócio da Gávea Investimentos e responsável pela área de private equity. Como a experiência somada destes 3 excelentes gestores resulta em mais de 50 anos de investimentos e desinvestimentos, obviamente o resultado do debate foi extraordinário para termos uma boa visão deste momento.
Seguem as principais conclusões deste debate de altíssimo nível:
 
Considerações Iniciais

  • Amaury Bier: segundo Amaury, esta crise é sem dúvida a mais profunda e dramática pela qual o Brasil e o Mundo já passaram uma vez que traz uma incerteza brutal quanto aos seus possíveis desdobramentos. Apesar de ser um economista experimentado com passagens pelo Governo Federal e pelo Banco Mundial, ele admitiu a sua dificuldade em avaliar os impactos econômicos. Porém, Amaury se arriscou a dizer que considera que algumas tendências como uso da tecnologia e comércio eletrônico vão se acelerar e se aprofundar. Outro comentário relevante foi que segundo ele, muitos Governos vão se dar conta que ter deixado determinadas cadeias de produção e logística muito concentradas em alguns países e/ou regiões como China e Ásia pode não ter sido o melhor caminho para alguns setores.
  • Piero Minardi: segundo ele, nunca viu uma crise desta forma e concorda ser muito difícil avaliar seu tamanho e o formato de uma eventual recuperação (ou seja, as hipóteses de V, W ou L). Ele disse estar literalmente vivendo um dia após o outro pois não se sabe “como será o amanhã”, como diria o poeta. Lembrou também que o Brasil infelizmente estava em pleno processo de recomposição econômica e agora vai se encontrar em novo processo de crise.
  • Chu Kong: por fim, Chu fez a declaração que nunca viu uma crise destas e acredita que vai haver mudanças estruturais de hábitos daqui para frente e, portanto, investidores, empreendedores e empresários têm que levar isto em consideração.

 
Situação das empresas do seu portfólio de investimentos

  • Piero Minardi: o Warburg Pincus possui um portfólio diversificado composto por 7 empresas. As empresas são Banco Indusval & Partners (serviços financeiros), Petz (varejo Pet), Camil (alimentos), GPS (terceirização de serviços), Sequoia (logística), Eleva (educação) e Restoque (varejo de vestuário). Segundo Piero, a prioridade tem sido dar suporte aos sócios gestores de modo que consigam passar pela crise e possam manter “o navio apontado para o lado correto ao saírem deste nevoeiro”. Chegaram a criar um fórum para que todos os CEOs e CFOs destas empresas investidas pudessem trocar ideias e promover ajuda mútua. Eles não entraram nas operações, mas têm procurado dar suporte, ideias e integração. Comentou que tem tido surpresas positivas com o desempenho de seus sócios gestores.
  • Amaury Bier: o Gávea também possui 7 empresas em seu portfólio sendo que 2 são comuns ao Warburg Pincus, ou seja, são co-investidores. As empresas são GPS (terceirização de serviços), Vtex (tecnologia), FrasLe (automotivo), Mundo Pet (varejo Pet), Paschoalotto (serviços financeiros), Natural One (bebidas) e Restoque (varejo de vestuário). Como um investidor minoritário, o Gávea tem mantido seu suporte no âmbito de Conselho de Administração e tem buscado mais ajudar do que atrapalhar. Segundo Amaury, os sócios apreciam e têm sido muito receptivos às suas visões, percepções, sugestões e mesmo “os braços”. Mesmo sabendo que as empresas não conseguirão pensar em prazos muito longos, tem sugerido que as mesmas façam diversos Planos Bs e planos de contingência para atravessar esta crise. E, no geral, a sugestão tem sido buscar alavancagem que o sistema financeiro permite para atravessar a crise com o caixa reforçado mesmo que haja um custo financeiro adicional pelo momento de alto risco.
  • Chu Kong: apesar de não ter empresas em seu portfólio por ter captado seu fundo da XP Investimentos há pouco mais de 2 meses, Chu considera que este é o momento de prestar total apoio ao sócio gestor, ajudando-o com plano contingencial, buscando alternativas de reforço de caixa e não trazendo qualquer perturbação do ponto de vista de governança.

 
Fazer novos investimentos

  • Chu Kong: esta pergunta acabou sendo direcionada somente ao Chu pois era o único do debate que acabou de captar recursos para investimento e está pronto para fazê-lo enquanto os outros debatedores não se mostraram propensos. Chu disse que sempre, durante sua carreira em private equity, acreditou muito em tese de investimento. Teses não devem mudar com o sem o COVID-19 e, portanto, as teses analisadas e desenvolvidas precisam independer da crise. Outro ponto bastante relevante colocado pelo Chu foi a questão do valuation. Enquanto os outros debatedores já haviam dito que não se consegue precificar uma companhia neste momento, Chu foi categórico e disse que não se aproveitaria para aviltar o valor de eventuais empresas-alvo. Porém, novamente ressaltou o foco no modelo de negócios, ou seja, qual será o modelo nos pós-crise. Terminou sua fala dizendo que a crise deveria ter “impacto zero” nas teses e nos valuations.

 
Impactos sobre o Varejo

  • Chu Kong: segundo Chu, o impacto sobre o varejo não será eterno. Esta será sua premissa-base para avaliar qualquer tese no setor. Porém acredita que o balanceamento entre varejo físico e online vai definitivamente ganhar uma nova dinâmica a partir de tudo que está sendo experimentado em todos os negócios de varejo.
  • Amaury Bier: o varejo online se tornou a única via para vários negócios, porém a natureza humana é bastante baseada em contato social. Portanto ainda não sabe avaliar os impactos, mas acredita que haverá mudanças de comportamento que impactarão os negócios de varejo. Ele mesmo citou que não irá com facilidade a restaurantes onde o sistema de serviço é self service após a Pandemia. Enfim, acredita que haverá mudanças de comportamento e os negócios de varejo precisarão se adaptar.
  • Piero Minardi: Piero profetizou que o impacto sobre o varejo será o “paraíso para o economics behavior” logo no início de sua resposta. Ele disse que a as vendas online da Petz vem ganhando relevância, apesar de ter várias lojas abertas (uma vez que a atividade é considerada essencial). Porém, ele nota que as empresas precisam começar a ganhar dinheiro neste segmento, o que não vem acontecendo. Portanto ele acredita que a crise fará com que as empresas busquem modelos rentáveis o mais rápido possível. Para ele, não pode haver diversas Amazon’s perdendo dinheiro “ad eternum” no Brasil.

 
Dinâmica de fund raising no Brasil

  • Piero Minardi: ele acredita que o impacto é negativo. Já era bastante desafiador o cenário de captação de recursos antes da crise e agora, com toda a desvalorização, deve ficar ainda mais difícil por algum tempo.
  • Amaury Bier: os investidores estrangeiros deverão estar mais atentos para outras regiões do Mundo neste momento e, portanto, nem haverá atenção para o Brasil. Infelizmente ele considera que as deficiências e defeitos do atual Governo reforçam a impressão negativa e consequentemente o afastamento por algum tempo. Amaury disse que este Governo faz “muito calor e pouca luz”, ou seja, as ações caminham, embora de forma muito tumultuada. Ele acredita que um bom cenário para captação agora será para os fundos PIPE, ou seja, que o investimento de fundos de private equity em ações negociadas em bolsa (mercado público) pois há diversas oportunidades na bolsa brasileira neste momento. Finalizando, ele considera que o curto prazo será sem condições, no médio prazo ainda será difícil e por fim o mercado deverá se reabrir ao Brasil no longo prazo pois há muitas oportunidades.
  • Chu Kong: ele acredita que por ora não há qualquer perspectiva de captação de recursos novos para a indústria, mas deverá voltar no médio prazo. Obviamente, sempre o ambiente macro econômico e o track record do gestor vão importar muito. Ele acredita que pode haver fundos que venham a ter problemas com chamadas de capital já comprometido, ou seja, que os investidores não honrariam os compromissos.
  • Piero Minardi: neste tópico, ou seja, chamadas de capital já comprometido, Piero declarou que haverá o “problema do denominador”. Os grandes fundos investidores têm percentuais que podem ser investidos por classes de ativos. Uma vez que há uma série de classes de ativos que apresentaram reduções drásticas de valor (como ações) recentemente, os investimentos em private equity ultrapassaram os percentuais permitidos pelos regulamentos. Daí viria o “problema do denominador”. Apesar de concordar que esta questão existirá, foi taxativo em dizer que pela seriedade da indústria, pela existência inclusive de multas, não haverá chamadas de capital não atendidas.

 
A indústria de private equity no Brasil

  • Piero Minardi: segundo Piero, o Brasil possui um dos melhores ambientes mundiais para private equity. Tem legislação adequada, excelentes gestores, respeito por contratos, enfim um ecossistema muito forte que se formou nos últimos 30 anos quando os primeiros investimentos desta modalidade começaram a ser feitos no Brasil. Também enalteceu o ecossistema que se formou em venture capital nos últimos 20 anos no Brasil. Segundo ele, ao se comentar o mercado brasileiro com outras geografias, realmente há muitas qualidades em nosso mercado. Portanto, tudo isto ajudará a retomada de captações e investimentos no médio prazo. Ele lembrou que boa parte das empresas que chegaram à bolsa de valores no Brasil nos últimos anos tiveram fundos de private equity e venture capital em seu quadro acionário. Todos concordaram que é uma quantidade bastante expressiva, passando de 50% dos casos, como foi citado. Mencionou o quanto os fundos impulsionaram a formalização da economia brasileira ao se tornarem sócios de empresas que precisaram se formalizar para recebê-los. Por fim, enfatizou que é uma indústria que estará ativa por décadas.
  • Chu Kong: Chu também concordou que a indústria tem bastante relevância e ressaltou a quantidade de empresas investidas por private equity na bolsa.

 
Investimentos alavancados[1]

  • Chu Kong: segundo Chu, este espaço sempre foi muito restrito no Brasil. Porém se realmente os juros atuais se tornarem o novo patamar, as compras alavancadas poderiam se tornar uma realidade. Mas Chu foi taxativo: “estamos no Brasil, eu seria cauteloso”.
  • Amaury Bier: por ter sido do Governo, Amaury lembrou que há ainda um longo caminho para a consolidação fiscal, ou seja, para que os juros estruturais no Brasil permaneçam baixos. Isto é pré-condição para compras alavancadas.
  • Piero Minardi: acredita que é algo para se usar com muito cuidado. Quem usou recentemente, não deve estar muito feliz.

 
Saídas de portfólio

  • Piero Minardi: ele não vê muitas perspectivas. Acredita ser melhor postergar os planos devido à dificuldade em se formar preços neste momento. O ideal será aguardar as oportunidades voltarem. Os setores “seculares” como saúde e educação deverão apresentar movimentos.
  • Amaury Bier: ele brincou que o Chu era o “lucky guy” do debate por ter dinheiro para investir. Segundo ele, também não há possibilidade de fazer saídas do portfólio neste momento pois a previsão do mercado retomar as aberturas de capital no curto prazo é muito remota.

 
Perfil de gestor ou características dado o que aprenderam agora

  • Piero Minardi: segundo Piero, os melhores gestores têm sido aqueles que mantêm o time focado e unido num momento como este, cada qual com seu estilo. As decisões precisam ser muito rápidas pois não há tempo.

 
Bancos e taxas de novas linhas de crédito

  • Amaury Bier: segundo ele, a situação é muito complexa. Os Bancos tem que exigir remuneração correspondente ao risco que estão tomando, o qual está muito alto devido às incertezas. O Estado pode ser este balanço de risco x retorno para que o mercado de crédito flua. Mensagem final é que companhias viáveis não podem deixar de existir.
  • Chu Kong: Chu foi lacônico: “Banco é Banco!!!”.
  • Piero Minardi: segundo Piero, as empresas investidas têm vantagem em pertencer ao portfólio dos fundos para negociarem com os Bancos por pertencerem a um grupo. No exterior, isto é muito comum e beneficia as empresas investidas.

 
[1] Investimentos alavancados: quando fundos de private equity adquirem uma participação em uma empresa, com recursos de investidores e recursos emprestados de bancos. São os famosos, LBOs ou Leveraged Buy Outs que foram muito comuns e ainda são nos Estados Unidos.




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