logo fortezza
< Voltar

Conteúdos


O mercado brasileiro de boutiques de M&A



 

O mercado brasileiro de boutiques de M&A

Por Denis Morante, sócio-diretor da Fortezza Partners.

Atuo em Fusões e Aquisições desde 1997. Então já se vão 25 anos professando nessa área que tanto me encanta. Quando comecei, havia alguns bancos que estavam se estruturado, principalmente após as privatizações do Governo FHC, com as vendas da teles, algumas das Big 6 da época também fazendo este tipo de consultoria e poucas boutiques de M&A. Sem problema em escrever sobre concorrentes, o player mais longevo da indústria de fusões e aquisições no Brasil é a Brasilpar, fundada em 1976. Apesar de já ter tido algumas “safras” de sócios — tendo sido criada pelo ilustre Roberto Teixeira da Costa, que chegou a ser presidente da CVM por dois anos —, a Brasilpar está firme durante todos estes 46 anos.

De todo modo, esse mercado começou a melhor se estruturar ao final da década de 1990 com o surgimento de alguns poucos players. A partir do início dos anos 2000, a cada nova temporada de demissões nos grandes bancos, surgiam mais algumas boutiques — como ocorreu em 2003, com o aparecimento de algumas casas focadas em M&A.

Este movimento de abertura de novas boutiques se intensificou após a virada de 2010, uma vez que o mercado de capitais vinha caminhando a passos largos com boas temporadas de aberturas de capital, chegada de mais e mais fundos de private equity. A partir daí, portanto, as transações de M&A passaram a se intensificar. Um mercado que girava em torno de 400 transações deu um claro salto a partir de 2010 e nunca mais registrou números abaixo de 700 transações. Também foi nessa época que alguns players americanos já consolidados decidiram abrir escritórios no Brasil como Greenhill, Moelis, Lincoln International e Evercore. Para se ter ideia, o mercado de M&A brasileiro ultrapassou 2000 transações anuais e deve se manter acima desse patamar nos próximos anos.

Deste modo, a partir de 2010, essa indústria foi ganhando mais importância e projeção ao grande público de empresários. Mas o fato é: o que é uma boutique de M&A? Somos empresas de consultoria independente, focadas em assessorar nossos clientes em transações de compra e venda de empresas, bem como em ingresso de capital através de ações. Também nos envolvemos em eventuais fusões empresariais. Costumo dizer que qualquer transação que envolva mudanças societárias e implique avaliação, negociação e estruturação deve ser acompanhada por uma boutique especializada ou assessor financeiro.

Em geral, somos empresas que variam hoje de 5 a 100 funcionários, normalmente constituídas sob o regime de partnership, no qual os executivos-chave, mais experientes, e normalmente egressos de bancos de investimento nacionais ou estrangeiros, são sócios-fundadores e diretores e gerenciam as transações — sempre acompanhados de uma equipe composta por membros seniores e juniores que são responsáveis por toda a condução da assessoria.

Não há estatísticas externas sobre esse mercado, mas a Kilimanjaro Capital, empresa focada em investimentos na forma de search fund desenvolveu um banco de dados sobre o nosso mercado em 2020. Segundo o levantamento, há mais praticamente 200 boutiques de M&A no Brasil. Somente na região Sudeste são um pouco mais de 150, ou seja, cerca de 75%. Se pensarmos na capital de São Paulo e locais próximos, estamos falando de algo como 60%.

Outra informação interessante sobre esse mercado é: o empresário brasileiro não costuma contratar um assessor financeiro para lhe ajudar em uma operação de venda ou em uma busca de sócio investidor de maneira tão contundente, ou seja, há uma percepção dos players da indústria de boutiques de M&A que em torno de 40% das transações não contam com um assessor financeiro ao lado do vendedor. Isso demonstra que existe um enorme potencial para o crescimento de nosso mercado e, portanto, de todas as boutiques envolvidas e engajadas em fazer com que haja cada vez mais profissionalismo nas transações concluídas no país.

Por fim, uma pequena argumentação principalmente a esses empresários que ainda não buscam os serviços de assessoria financeira:

  • Assessores são capazes de trazer uma melhor estimativa do valor justo do negócio e de buscar identificar alavancas de valor e sinergias que podem ser cruciais no processo negocial;
  • Assessores são habituados a conduzir negociações desta natureza. Sempre digo que não tenho dúvidas de que um empresário é capaz de fazer sozinho a negociação de sua empresa, porém, porque não trazer alguém que negociou dezenas de empresas ao invés de se arriscar na primeira, e talvez única, negociação da vida;
  • Assessores tem amplo conhecimento de contratos e estruturas, mesmo não detendo formação jurídica, e, portanto, costumam ser figuras cruciais em todo processo de negociação e estruturação da transação; e
  • Assessores estão, geralmente, não vinculados emocionalmente ao negócio. Após 25 anos na profissão, tenho uma certeza: as transações carregam muita emoção pois tocam muitas vezes na maior obra criada por um indivíduo ou conjunto de indivíduos.

Portanto, é fato que o mercado de boutiques de M&A brasileiro tem se tornado cada ano mais profissional, estruturado e completo e que está bastante preparado e apto a enfrentar as centenas de transações que estão por vir e, de fato, criar valor aos empresários que os contratam.

 

 

 

 




Atração de investidor financeiro ou venda para player estratégico?

Primeiramente, vale a pena um esclarecimento sobre as diferenças entre uma transação envolvendo investidores financeiros e es...

Aumento na competição por ativos e outras tendências que devem impulsionar M&As

O ano de 2023 foi marcado por uma transição política relevante no Brasil, acompanhada de uma moderada política monetária ex...

Deals de M&A cancelados: Os impactos para investidores e para as companhias

No mundo dinâmico das fusões e aquisições (M&A), as negociações podem ser tão voláteis quanto promissoras. Enquanto ...