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Tendências em M&A no setor de saúde brasileiro



 

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Passado o primeiro semestre de 2024, o setor privado de saúde começa a dar sinais de melhoria. As principais fontes pagadoras retomam o crescimento da base de beneficiários, mesmo com os altos índices de correção dos preços dos planos, e recuperam patamares de lucratividade e os prestadores também demonstram maior previsibilidade dos custos e estabilização dos prazos de recebimento.  

Os últimos anos, no entanto, foram muito desafiadores para o setor – os descompassos causados pela pandemia combinados com o aumento abrupto dos juros resultaram em diversos movimentos que provavelmente não teriam ocorrido em “tempos normais”, especialmente por meio de M&As. Algumas destas transações foram transformacionais e alteraram a dinâmica dos mercados, inclusive em nível nacional. No mercado de capitais os preços e múltiplos das empresas listadas sofreram compressões relevantes, alterando a referência dos investidores e limitando a atratividade do setor. 

Por estes motivos achei interessante compartilhar neste artigo alguma das principais tendências que identificamos para os próximos anos dentro desta indústria de saúde, especialmente nas movimentações de fusões e aquisições. 

De início, vale ressaltar que o setor de saúde continuará sendo impactado por movimentos de longo prazo, as chamadas “tendencias seculares”, com destaque para: (i) A população brasileira continuará envelhecendo, o segmento da população com mais de 60 anos deverá aumentar dos atuais 14% para mais de 29% até 2050, aumentando a demanda por serviços de saúde, especialmente por cuidados de doenças crônicas, (ii) Contínuos avanços tecnológicos, com  progressos da medicina personalizada (ex: biotech e genética) e aumento da conectividade (ex: telemedicina) vão demandar a adoção contínua de novos serviços e produtos de saúde, além de favorecerem a criação de novos modelos de negócio, (iii) A infraestrutura de saúde pública é insuficiente para atender à demanda crescente de serviços e investimentos, evidenciando a relevância dos investimentos privados e (iv) Ganhos de escala derivados da diluição de custos fixos, aliados a ganhos de barganha e dificuldades para atender a regulação/ tributação continuarão favorecendo a consolidação do setor em grandes grupos empresariais. 

Aprofundando a análise para o tema de Fusões e Aquisições (M&A), alguns padrões têm ganhado destaque recentemente. Aqui estão alguns padrões proeminentes: 

1, Consolidação dos Consolidadores: Nos últimos anos ocorreram movimentos transformacionais envolvendo diversos dos principais players, que se fundiram ou adquiriram seus concorrentes ou empresas complementares. As transações que habitualmente envolviam se limitavam a valores entre dezenas e centenas de milhões de reais passaram a citar valores bilionários com frequência. Alguns dos exemplos de grandes transações: 

  • Dasa e Amil anunciaram a combinação de seus hospitais de alta complexidade em uma única entidade (junho de 2024), movimento que ocorreu após a venda do controle da Amil e a reestruturação da gestão da Dasa, formando a segunda maior rede hospitalar não- verticalizada. 

  • Compra do Grupo NotreDame Intermédica (BVMF:GNDI3) pela Hapvida (BVMF:HAPV3) (2021): A fusão entre esses dois grandes grupos que lideravam o segmento de “operadoras verticalizadas” criou uma empresa com mais de 10 milhões de vidas cobertas.  

  • Compra do Grupo Pardini pelo Grupo Fleury (BVMF:FLRY3) (2021): A junção destas redes criou a maior empresa de diagnósticos do país. Unindo negócios B2C e Lab to Lab em uma única plataforma de serviços diagnósticos. 

  • Rede D’Or (BVMF:RDOR3) adquiriu a Sulamérica (2021), consolidando sua posição no mercado de saúde brasileiro combinando a maior rede de hospitais privados com uma das principais fontes pagadoras do país 

2. Aquisições táticas e continuidade de consolidações horizontais: apesar de não envolverem montantes tão grandes quanto os do grupo anterior, este tipo de consolidação é a mais recorrente em termos de volume de transações. Estas aquisições comumente envolvem um grupo estratégico comprando concorrentes menores para acessar novas geografias ou para aumentar sua capacidade ou simplesmente aumentar seu market share em mercados onde já atua. Alguns exemplos envolvem:  

  • Grupo Fleury adquiriu dezenas de laboratório de análises clínicas e clínicas de diagnósticos por imagem. Em 2024 retomou o processo de consolidação com a aquisição da Clínica São Lucas em Santa Catarina. 

  • DaVita, uma empresa americana de cuidados renais, adquiriu inúmeras clínicas de diálise no Brasil, incluindo o Instituto Maranhense do Rim. 

  • Oncoclínicas (BVMF:ONCO3) adquiriu diversos players de cuidado oncológico e estabeleceu também joint ventures com fontes pagadoras. 

  • Aliança Saúde (ex-Alliar) deu continuidade ao movimento de consolidações com a aquisição da Pro Echo no Rio de Janeiro, após mudanças ocorridas em seu bloco de controle. 

  • A empresa britânica Bunzl (LON:BNZL) adquiriu a RCL Implantes, expandindo seu portfólio de soluções ortopédicas no Brasil. 

  • Henry Schein (NASDAQ:HSIC) adquiriu uma empresa de soluções odontológicas, Implante SIN, ampliando sua atuação no mercado de implantes dentários.  

  • EMS adquiriu o portfólio de 17 produtos da Sanofi (EPA:SASY), expandindo sua linha de produtos farmacêuticos. 

3. Abertura de novas teses de consolidação pelos fundos de private equity (PE): passadas as grandes ondas de consolidação em hospitais de alta complexidade, fontes pagadoras e diagnósticos, os investidores financeiros têm estimulado consolidações em novos segmentos, especialmente aqueles ligados às teses de serviços ambulatoriais, ou seja, aqueles ofertados fora dos hospitais de alta complexidade. Alguns exemplos incluem:  

  • Fundos de PE do Patria e Vinci Partners (NASDAQ:VINP) investiram nos segmentos de oftalmologia e outras especialidades com foco em serviços e cirurgias ambulatoriais. 

  • Fundo de PE da XP (BVMF:XPBR31) adquiriu diversas clínicas de fertilidade consolidando uma plataforma de serviços no segmento de reprodução assistida. 

  • Fundos de PE da Vinci Partners e Teman investem na formação de uma rede de hospitais psiquiátricos. 

  • Fundos de PE da Kinea e EB Capital investiram na Blue Health, com foco no aluguel de equipamentos e fornecimento de insumos para serviços de saúde. 

  • Diversos fundos investiram no segmento de Hospitais de Transição, Home Care e Residências de Longa Permanência

Estes investimentos mais recentes demonstram a tentativa do setor para aumento do foco em medicina preventiva e “desospitalização, que permita a transição de cuidados de alta complexidade hospitalar para cuidados domiciliares ou ambulatoriais, com modelos mais eficientes e menos custosos para fontes pagadoras e usuários finais. Observando também sobreposição da indústria mais tradicional com a adoção de novas soluções, como empresas de tecnologia investindo fortemente em IA, cibersegurança e capacidades em nuvem e ênfase crescente em considerações ESG.  

As perspectivas de negócios no setor de saúde continuam promissoras. O envelhecimento da população e a crescente demanda por serviços de saúde de qualidade continuarão a impulsionar o crescimento do setor. A consolidação de empresas e a entrada de novos investidores financeiros também podem promover inovação e eficiência, melhorando a qualidade dos serviços de saúde disponíveis para a população. No entando, no curto prazo, continuamos atentos à recuperação das companhias do setor, que pelo menos por ora tiveram sua capacidade de investimento reduzida pelos altos índices de endividamento e, conforme destaquei acima, muitas delas continuam digerindo a junção de culturas e modelos de negócios distintos e terão que provar suas capacidades de entregarem resultados em uma nova configuração desta indústria. 




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